O óleo de palma está se tornando um dos produtos mais difundidos no mundo, mas a um custo muito alto para a vida humana. Produzido a partir do óleo de palma, o dendezeiro, é cultivado em grandes plantações principalmente na Ásia tropical. Ela é valorizada como um substituto saudável para as gorduras trans em alimentos processados, e para os consumidores europeus. O óleo de palma é altamente rentável para os seus agricultores, pois seu cultivo é relativamente fácil. O problema é que as plantações transformam-se em árvores, mas isso não é o pior de tudo.
Muitas plantações de dendezeiros são colocadas no lugar de grandes florestas de turfa, em oposição à floresta tropical da planície “regular” que cresce no solo mineralizado. Em pesquisas de conversão atuais dessas florestas de turfa para dendezeiros, as primeiras podem desaparecer completamente em 2030, de acordo com um artigo já publicado em 2012 por Jukka Miettinen e colegas. A turfa é feita de matéria vegetal em decomposição, essencialmente é o carvão. E carvão significa carbono, se em sua forma em rocha ou não. As turfeiras tropicais se estendem na camada bem abaixo da superfície, ou seja, milhares de acres adicionais de armazenamento de carbono. Quando as florestas de turfa são queimadas, o carbono da turfa é liberado na atmosfera, acelerando as emissões de carbono no ambiente. Na verdade, Miettinen estimou que as reservas de carbono da turfa tropical são em torno de 90 giga toneladas, quase o equivalente a um adicional de 10 anos de emissões globais (níveis de 2010).
Florestas de turfa também servem como um refúgio para a vida selvagem ameaçada de extinção, como orangotangos que foram deslocados de seu habitat original pelo desmatamento, de modo que a destruição da turfa é uma séria ameaça para a biodiversidade. Com as florestas de turfa em extinção, esses animais não têm para onde correr.
Não há nenhum sinal de esperança com esta situação. O prejuízo para o meio ambiente e para a vida humana sobre o planeta é real. Em 2008 o exame de biodiversidade nessas áreas da Ásia tropical determinou que as plantações de palmeiras não tem qualquer valor para o habitat de animais. Assim, a única recomendação para se ter “mais verde” é preservar a floresta original. Preservar as manchas remanescentes pode ajudar um pouco, mas realmente a única maneira de preservar a biodiversidade é não mais plantar as palmeiras. A eliminação progressiva de gorduras trans, juntamente com uma procura crescente de biocombustíveis sugere que a produção de óleo de palma só vai aumentar. Com existem poucos substitutos viáveis ao óleo de palma, a melhor opção é não colocar mais plantações em áreas que já estão perturbadas, e em idade adulta. O óleo de palma é onipresente, mas é mais comum em alimentos processados, por isso, se os consumidores reduzirem esses itens também vai ajudar.
Aqui no Brasil o cenário é ainda pior. Na estrada ao lado, a PA-150, caminhões sem condições mínimas de segurança circulam com carregamento ilegal de madeira surrupiada da floresta. O povoado de Palmares surgiu há 27 anos, quando a Agropalma, maior produtora nacional de óleo de dendê, alojou-se na região atraindo milhares de nordestinos e paraenses em busca de emprego. Porém, não é mais aceitável, aos olhos vigilantes do mercado internacional, que os negócios de uma companhia estejam associados a um caso de caos social como a Vila dos Palmares. Para conquistar status de responsável e a aprovação de clientes engajados na causa socioambiental, a Agropalma terá de se reinventar.
Sozinha, a Agropalma responde por 75% da produção brasileira de óleo de dendê, que vende para as indústrias alimentícia, cosmética e química. O óleo de palma, como também é conhecido, tem as mais variadas aplicações: é base de hidratantes e óleos corporais, utilizado no processo de fritura de batata e na fabricação de massa de biscoitos. Cerca de 15% dos volumes produzidos nas cinco unidades de extração no Pará são exportados para países europeus e para os Estados Unidos – mercados cada vez mais sensíveis às questões socioambientais. Desde que acordou para o assunto, a Agropalma vem se empenhando no aperfeiçoamento de processos e produtos para se aproximar das práticas de menor impacto ambiental.
A Agropalma diz estar desenvolvendo um programa social de agricultura que emprega 185 famílias da região e gera uma renda média mensal de R$ 1,7 mil para cada uma. Com a iniciativa, a empresa pretende ajudar a frear o desmatamento, pois afasta as pessoas de atividades que devastam.
É um começo, e vamos esperar que seja o suficiente.
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