Animais pertencem a entidade da nação árabe cujo fundador morreu em 2014. Brasileiros querem ampliar número de indivíduos nascidos em cativeiro para devolver espécie à vida selvagem.
O Brasil quer trazer para o País ararinhas-azuis que vivem em cativeiro no Catar para aumentar a reprodução dos indivíduos e, assim, tentar devolver a espécie à vida selvagem. Para isso, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pediu ao Itamaraty que ajude no pedido ao país árabe. As aves que vivem no Catar estão sob os cuidados da Al Wabra Wildlife Preservation, instituição que fica perto da capital, Doha, e que reúne animais ameaçados. A ave é nativa da caatinga, bioma que só existe no Brasil.
A Al Wabra Wildlife Preservation era administrada pelo ex-ministro da Cultura do Catar Saoud Bin Mohammed Bin Al Thani, que morreu no ano passado aos 48 anos. O temor de que os animais pudessem ser distribuídos pelo espólio de Thani levou o ICMBio a acionar o Itamaraty. Thani era um dos maiores conhecedores de obras de arte do país árabe e também se esforçava para preservar fauna e flora ameaçadas de extinção. Gazelas, antílopes e plantas raras são parte do acervo da instituição.
A Al Wabra é dona da maior parte dos animais da espécie Cyanopsitta spixii, a ararinha-azul, que se encontra em cativeiro. Mais de 70 ararinhas pertencem à instituição. Outras 10 vivem na Alemanha, e 12, no Brasil. De acordo com o coordenador geral de manejo para conservação de espécies do ICMBio, Ugo Vercillo, a meta da instituição é devolver a ararinha-azul ao seu hábitat natural em 2021. Essa meta consta do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha Azul.
Para que isso seja possível é preciso ampliar a quantidade de animais que nascem por ano. A média atual é de 10 indivíduos e precisa chegar a algo entre 20 e 25. É necessário, também, que os animais tenham o menor contato possível com o homem.
“Viver com o homem é fora do padrão deles. Não queremos que a ave se alimente pelas mãos do homem. Para serem inseridos na natureza, os animais precisam ter receio do ser humano, eles precisam saber que o gavião é seu predador”, afirma. Se um animal nasce no Brasil, ele tem contato menor com o homem do que se nascer em outro país e for engaiolado, transportado para o País de avião e depois até seu hábitat, na cidade de Curaçá, no norte da Bahia.
Vercillo já pediu para o Itamaraty entrar em contato com o Catar para trazer os animais ao País. Independentemente disso, o relacionamento entre os pesquisadores do ICMBio e do Al Wabra é positivo. O instituto do Catar até comprou uma fazenda em Curaçá para poder devolver os animais à natureza.
Outros desafios envolvem o manejo destes animais. As instituições donas de exemplares de espécies ameaçadas ou extintas na natureza temem repassá-las a outras instituições. “Nosso pedido ao Itamaraty destaca que lamentamos muito a morte do xeque Al Thani, que se dedicava a cuidar de animais e plantas raríssimos. Queremos trabalhar para que o sonho dele em devolver esses animais à natureza fique aceso”, afirma Vercillo.
A ararinha-azul é uma das quatro espécies de araras inteiramente azuis conhecidas. Das outras três, todas maiores do que ela, exemplares de duas estão sendo devolvidas à vida selvagem. Uma destas espécies vive na região de Juazeiro do Norte, no Ceará, e outra, é endêmica do Pantanal. A terceira espécie, Anodorhynchus glaucus, vivia entre o Paraná e o Paraguai e foi extinta em 1892 em decorrência da guerra do Paraguai.
A ararinha-azul que os pesquisadores tentam devolver à vida selvagem atinge até 57 centímetros de comprimento, da cabeça à cauda. É pequena em comparação com as outras e pode viver mais de 30 anos. Vercillo estima que os animais que nasceram nos últimos anos, e nascerão nos próximos, serão a geração de pais daqueles que poderão viver em liberdade.
Isso ocorrerá só se os processos de aumento de reprodução derem certo. Além da tentativa de trazer mais ararinhas ao Brasil para que acasalem naturalmente, os pesquisadores têm feito inseminação artificial e agora buscam aumentar a fertilidade dos machos. As ararinhas-azuis se reproduzem pouco porque são monogâmicas. Cada casal tem, em média, três filhotes por ano. Segundo Vercillo, há três fêmeas no acervo brasileiro que aguardam parceiros. O comércio ilegal foi o principal motivo para a extinção do animal na natureza. Outras causas, como a destruição do seu habitat, também contribuíram.
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