O escritor assim como o faz a coruja, deve ter visão periférica, ver além de seus horizontes, deve buscar na escuridão esclarecer as lacunas deixadas no tempo, sem temer a incerteza da jornada, deve ter sempre os olhos perspicazes para contextuar o mundo e os indivíduos.
Deve ser ínsito no escritor, conhecer que a liberdade de pensar é tão sublime quanto o voo alçado nas maiores altitudes. O homem necessita estar em eterna reconstrução; por isto ele é livre. A liberdade é o direito de transformar-se. O poder transformador do homem contou a história, e quem se deixa fascinar no seu estudo, sabe disso. O escritor dá alma à história, poetizando o seu exercer pelo indivíduo ao longo do tempo.
Para alçar voo em seu enredo o escritor não pode devanear. Ele precisa de planejamento, o que mais costuma tirar suas noites de sono, sobretudo dos iniciantes – nada mais é do que a proposição de uma questão que se buscará responder por meio de pesquisa. Em outras palavras, criou-se no imaginário um enredo, porém ele precisa de um pano de fundo para contá-lo. Aí está a pergunta que a pesquisa pretende resolver.
Pelo que tenho visto, a dificuldade maior da dramatização da história pelos escritores decorre mais pela falta de maturidade ou de conhecimento do tema, do que pela dificuldade própria de construção do enredo. Um tema bem delimitado e uma revisão sistemática da bibliografia já prenunciam êxito na formulação de um drama romanesco.
Não adianta, entretanto, querer pular etapas e ir direto ao desenrolar da história. Existe um processo de amadurecimento e reflexão sobre o assunto, que depois se tornará um tema, até se chegar verdadeiramente ao ápice do drama.
Do ponto de vista metodológico, um bom enredo envolve pesquisa. Deve atender a alguns requisitos. Precisa ser claro e preciso (todos os conceitos e termos usados em sua enunciação não podem causar ambiguidades ou dúvidas). Claro que a história em si corre paralela ao pano de fundo. Este sim, deve ser claro.
Precisa ser empírico, isto é, observável na realidade, que pode ser captado pela observação do leitor mais atento, através de técnicas e métodos apropriados;
Necessita ser delimitado no tempo escolhido para amparar a trama. Um cenário vívido da época escolhida.
As dimensões citadas acima devem ser usadas como um crivo para o escritor examinar a consistência do seu enredo. Antes de formulá-lo no papel, seria oportuno questionar-se: o enredo nos termos que o coloco, é claro? Trata-se de questão passível de solução? É delimitado? É empírico?
Para contar a história, devemos transformar o tema numa incessante caminhada do leitor em busca de respostas. Por isso, o melhor caminho para a redação no corpo do texto do projeto é utilizar frases interrogativas.
O que é e como ocorre o fenômeno? Por que ele se manifesta? Quais são seus efeitos e impactos? Estas são algumas das formulações lógicas que podem orientar uma dramatização romanesca consistente, dependendo, é claro, do objetivo do escritor. Uma pesquisa que investigue a relação causal, por exemplo, terá que questionar acerca da causa do fenômeno e não sobre como o mesmo se dá. Este último enfoque resultaria de uma mente amadurecida e crítica do ser humano a cada tempo de sua existência ou do momento de sua vivência. Os costumes da época, as problemáticas enfrentadas por seus personagens dentro do enredo.
A experiência tem mostrado que a utilização dos critérios mencionados acima gera resultados satisfatórios. No entanto, é necessário que se repita: uma boa história resulta de um trabalho arduamente desenvolvido pelo escritor. Não surge do vácuo, da mera criatividade ou imaginação.
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