Pouco poder para muita gente. É assim que integrantes do PMDB definem o atual momento do partido. Para eles, se os principais caciques se unissem, eles mandariam. Embora passem a impressão de que detêm poder demais, os peemedebistas sofrem de um problema crônico: a falta de unidade. “O PMDB só apaga incêndio”, afirmou esse parlamentar ao Brasil Post.
Nos últimos dias a briga entre três fortes lideranças do partido saiu dos bastidores e se tornou pública. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto declarado da presidente Dilma Rousseff, começou a trocar farpas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O projeto que amplia a terceirização serviu de instrumento para mostrar oposição entre os dois.
O senador também travou um embate público com o vice-presidente e articulador político de Dilma, Michel Temer. Após dizer que o partido não deveria se transformar em coordenador de RH da presidente, em referência à distribuição de cargos no segundo escalão liderada por Temer, Renan trouxe para a plateia as diferenças com o partido.
No mesmo dia, o vice-presidente divulgou uma nota, na qual afirmou que não usaria o cargo para agredir autoridades de outros poderes. Temer disse ainda que não estimularia um debate que só pode desarmonizar as instituições e os setores sociais. “Se outros querem sair desta trilha [de harmonia], aviso que dela não sairei.”
O presidente do Senado chegou a ensaiar uma resposta em uma carta, que vazou aos jornalistas. No texto, ele insistia que não iria rebater para não promover “escalada retórica incompatível com nossa função institucional”.
Peemedebistas olham com desdém à briga dos caciques. “Eles se desentenderam. Nada consegue mudar isso”, resume um aliado. Há, segundo outro peemedebista, uma insatisfação generalizada e cada um tem seu jeito de demonstrar isso. De acordo com ele, tanto o presidente da Câmara quanto o do Senado querem mostrar sua independência, mas têm suas queixas próprias.
Acostumados a orbitar em torno de quem está no comando, como foi com o Fernando Henrique Cardoso, com Lula e é com Dilma, há peemedebistas que acreditam que os movimentos, principalmente de Eduardo Cunha, sejam de ruptura para quem sabe chegar à Presidência da República.
Antes de alçar voos mais altos, Cunha deverá enfrentar essa briga interna. Por enquanto, ele tem feito o possível para se tornar conhecido. Com a Câmara Itinerante, o peemedebista tem ido de Norte a Sul do País. Aonde vai, se torna notícia. Na primeira agenda da Câmara Itinerante, em Curitiba, ele disse que as coisas foram ocorrendo na vida dele, que não planejou chegar à presidência da Casa.
“Eu não faço política hoje pensando no cargo que vou disputar amanhã.”
O deputado também esteve em São Paulo, Porto Alegre, João Pessoa, Natal, Campo Grande, Cuiabá. Em quase todos os eventos, entretanto, ele foi vaiado. Em Porto Alegre, ele foi recebido com protestos e um beijo gay. As vaias vieram acompanhadas de gritos de palavras de ordem como “não me representa”.
Além do próprio partido, o deputado terá que lidar com essas resistências, principalmente de movimentos sociais e setores mais progressistas. Pensam contra ele denúncias, como a investigação da Operação Lava Jato, e a relação com a igreja evangélica. Cunha é autor de projetos polêmicos, como o que criminaliza o aborto, o que cria o dia do orgulho hétero e já declarou ser pessoalmente a favor da redução da maioridade penal.
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